segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vimos através da presente, e não por outro meio...

Estamos numa época em que a ordem é otimizar recursos. Isto vale também para palavras. Acredito que alguns de vocês se lembram  de quando as cartas  particulares manuscritas (e enviadas saudosamente pelo correio postal) iniciavam assim: “Pego esta caneta para escrever estas mal traçadas linhas...” . É sério, as cartas iniciavam assim. Tem até uma música do Erasmo Carlos “A carta” que começa mais ou menos nestes termos. Hoje isto quase não é mais utilizado, certamente por ser desnecessário. Após o vocativo (Sr. Diretor, Sr. Paulo, Prezado Senhor, Caro Paulo, Querida Paula,) vai-se direto ao assunto.

Mas hoje ainda vejo cartas empresariais, e-mails e avisos onde na introdução consta: “Vimos através da presente comunicar que nos dias...”, “Através da presente temos a satisfação de convidar a equipe de vendas..., “ Através desta solicitamos o envio urgente..., “Por meio desta vimos agradecer a hospitalidade...”, quando o mais econômico, moderno e inteligível seria: “Comunicamos que nos dias... “, “Temos a satisfação de convidar a equipe de vendas...”, “Solicitamos o envio urgente de...”, “Agradecemos a hospitalidade...”, ou seja, ir direto ao assunto ou começar com alguma justificativa, assunto que comentaremos em outra ocasião. 

Se a empresa ou pessoa está recebendo uma correspondência física ou digital é porque o remetente usou uma ou outra forma de envio. Não precisa dizer que veio através deste ou daquele modo

Nos cursos geralmente levo um dos meus sobrinhos, primeiro para criarem “gosto” por cursos técnicos principalmente nesta área de comunicação, segundo para conhecerem um pouco do mundo onde vivo, terceiro para me fazerem companhia e quinto para se sentirem úteis. E numa das vezes que meu sobrinho Renato foi comigo, no final do curso ele comentou “ Lu, imagina só a pessoa indo junto com a carta: venho através da presente...”. Bingo! A partir de então, tenho usado isto como argumento também.

O que acontece às vezes é o emissor da mensagem achar que o texto ficará muito curto, e então acaba usando o “Vimos através da presente...” para “encher linguiça”, como se diria no popular.

Esta introdução já teve seus tempos de glória, onde era “top” de linha. Agora ainda aparece ali ou acolá, sendo suprimida pouco a pouco por ser desnecessária e também engraçada, adjetivo que não cabe em correspondência  empresarial e muito menos na oficial.

Caso alguém receba modelo pronto com esta introdução, pode deletá-la sem medo algum e ir direto ao assunto.